A liderança além do profissional: porque agimos como agimos

Para que possamos ser bons lideres, o autoconhecimento, a autopercepção e a autocompreensão são fundamentais para o sucesso dessa missão. Liderar, é acender nos outros a chama que arde dentro de nós mesmos. É transmitir e gerar inspiração e respeito. Portanto, temos que saber que combustível alimenta essa nossa chama. Conduzir outras pessoas passa pela necessidade de liderarmos a nós mesmos. Não teremos muito êxito em exercer liderança sobre outras pessoas, quando não temos a capacidade de liderar a si próprios.

Desde a nossa concepção, somos como frascos quase vazios. Somos hardware com software básico. Somos como um caderno em branco, que será preenchido com o que iremos experimentar desde o primeiro dia das nossas vidas, incluindo o período antes do nascimento. Foi assim que o criador nos projetou.

Como tudo começa

Nossa carga genética traz muitas características físicas e comportamentais dos nossos genitores e da ascendência familiar, fazendo com que uma parte do que somos já venha pré-determinada pela composição da cadeia de DNA herdada. No entanto, como seres únicos, indivíduos inéditos, vamos ganhando características próprias e particulares no decorrer da vida. E aquele espaço vazio do “frasco” que somos, vai sendo preenchido durante nossa jornada pela vida, por meio do que aprendemos, reaprendemos, experimentamos, pelas nossas convivências e escolhas. Tudo isso vais se construindo ao longo dessa jornada. Então, essas e outras questões inerentes ao fato de estarmos vivos, vão formando o conhecimentos que preenche aquele ser inicial de identidade pouco definida que somos ao nascer.

Entendendo isso, fica mais fácil compreender o que e quem nos tornamos. Nessa linha, um exercício importante que se deve fazer ao passar por este processo, parte de uma reflexão dos fatos mais relevantes ocorridos em nossa trajetória que nos leva, nos dias atuais, a agir da forma como agimos e ser quem somos. Não quero entrar profundamente em questões da psicologia, então, neste sentido, nem vou abordar traumas ou outras questões da psique humana, me atendo apenas a uma análise superficial deste quesito.

Após essa autoavaliação, que é essencial para o verdadeiro líder, cabe a ele estender o mesmo processo para seus liderados, visando entender as perspectivas daqueles os quais exerce autoridade. Isso será essencial para que se possa contribuir com o crescimento e evolução profissional deles. Não é possível contribuir de forma significativa e constante com alguém sem conhecer e entender, minimamente, o que formou seus propósitos de vida, valores e aspirações.

É bastante complicado adentrar na vida pessoal das pessoas, principalmente estando em um contexto profissional. Portanto, isso deve ser feito com muito cuidado e medindo sempre se não está ocorrendo uma “invasão” da privacidade alheia. Porém, na perspectiva individual de cada um de nós, afirmo: não há separação absoluta entre a vida pessoal e profissional. Aquilo que te aflige no profissional, vai ter impacto no pessoal e vice-versa. Por isso destaco a importância na atitude do líder de conhecer o que ocorre com seus liderados de forma particular, ética e sigilosa.

Um possível “caminho das pedras”

A seguir, apresento algumas técnicas que o líder pode usar para se aproximar de seus liderados e estreitar o relacionados com eles:

1. Estabeleça um ambiente mais aberto: crie um ambiente acolhedor e seguro no qual a pessoa se sinta à vontade para compartilhar informações pessoais e se abrir sobre sua vida.

2. Tenha conversas informais: saia do contexto formal de trabalho e tenha conversas mais leves com a pessoa, mostrando interesse em sua vida fora do trabalho. Se interesse pelos seus hábitos e hobbies, interesses pessoais, família e eventos importantes em suas vidas.

3. Faça reuniões individuais: tenha, regularmente, um tempo de qualidade para se reunir individualmente com as pessoas. Utilize essas reuniões para discutir não apenas o trabalho, mas também para interagir sobre sua vida pessoal e interesses.

4. Participe de eventos sociais: esteja presente em eventos sociais, como happy hours, almoços ou atividades de equipe fora do ambiente de trabalho. Essas ocasiões informais proporcionam uma oportunidade para interações mais pessoais e para conhecer melhor cada membro do time.

5. Demonstre interesse genuíno: ao conversar com as pessoas, mostre interesse genuíno em suas histórias e experiências pessoais. Faça perguntas adicionais para demonstrar que você está interessado em conhecê-los melhor. Mas seja natural e sincero, não adianta forçar a barra. Isso só vai criar uma impressão errada sobre você.

6. Fale sobre você: para construir confiança é necessário reciprocidade. Portanto, compartilhe informações pessoais sobre você. Isso ajudará a estabelecer uma conexão mais próxima e criar um ambiente de confiança mútua. Pois você mostrará que também está aberto a ser conhecido por eles.

7. Use ferramentas de colaboração: plataformas de comunicação e colaboração, como grupos em redes sociais internas ou aplicativos de mensagens, podem ajudar no compartilhamento de informações sobre interesses pessoais, como hobbies, livros, filmes, etc. Isso pode incentivar conversas informais entre líderes e liderados. Mas, tenha cuidado para não ser mal interpretado ao manter conversas muito informais.

8. Reconheça momentos pessoais importantes: esteja atento a datas importantes na vida das pessoas do seu time, como aniversários, casamentos ou nascimentos. Envie uma mensagem de felicitações ou reconhecimento, demonstrando que você se importa com eles além do ambiente profissional.

9. Seja um bom ouvinte: pratique habilidades de escuta ativa ao se envolver em conversas com as pessoas. Evite falar apenas de si, demonstrando interesse pela vida deles. Dê-lhes espaço para compartilhar suas experiências e emoções, mostrando compreensão e empatia.

10. Acima de tudo, respeite a privacidade: mesmo sendo muito importante conhecer seus liderados, também é essencial respeitar sua privacidade. Certifique-se de estabelecer limites adequados e não pressioná-los a compartilhar mais do que estão confortáveis.

Lembre-se: é fundamental agir com sensibilidade e respeito pela individualidade de cada um. Nem todos se sentirão confortáveis em compartilhar aspectos pessoais de suas vidas, e cabe ao líder criar um ambiente seguro e respeitoso para que isso aconteça de forma voluntária ou entender que algumas pessoas simplesmente não irão permitir interações que estejam além do relacionamento estritamente profissional.

Considerações finais

Por fim, com este artigo tive o objetivo de mostrar ao leitor que boa parte da complexidade nos relacionamentos, principalmente no contexto corporativo entre líder e liderado, pode ser reduzida se aquele que exerce o papel de conduzir os rumos dessa relação, tiver a atitude de buscar conhecer melhor aqueles a quem ele tem a missão de ajudar e apoiar na jornada rumo à conquista dos objetivos comuns e quem sabe até nos pessoais.

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