Agilidade não é só realizar cerimônias. A mentalidade por trás das práticas.

Em minha jornada dentro das práticas ágeis, observo a aplicação de cerimônias Scrum – Daily, Planning, Review, Retrospectiva – de forma mecanizada, onde a preocupação é seguir a agenda pré-definida e cumprir o timebox, independente se o propósito de tal rito foi atingido.

A pergunta que sempre me faço é: As pessoas que participam têm o entendimento do principal objetivo daquela agenda? O que entra, o que deve ser tratado, e quais outputs devem sair? E, na minha experiência ao assumir novos times, a resposta muitas vezes é: “A daily é para falarmos o que estamos fazendo. A Review é para demonstrarmos as entregas. A retrospectiva é um momento de descontração. A planning é para definirmos o que vamos trabalhar na Sprint.”

Será que estamos de fato nos tornando mais ágeis ou só repetindo cerimônias?

A armadilha do “Ágil de Palco”

O termo “Agile Theater” ou “Teatro Ágil” vem ganhando força exatamente para descrever esse fenômeno:

“Executar as cerimônias, mas sem a mudança real de comportamento e mentalidade.”

Como bem coloca Dave Snowden, criador do framework Cynefin:

“As práticas só fazem sentido dentro de um contexto e com um propósito. Reproduzi-las mecanicamente é ignorar a complexidade do ambiente.”


A verdadeira essência: Mindset Ágil

A Agilidade surgiu para resolver problemas reais, com foco em responder rápido a mudanças, aprender com o cliente e entregar valor continuamente.

O próprio Manifesto Ágil, lá em 2001, já deixava isso claro. Um dos valores que mais faz sentido pra mim é:

“Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas”

Ou seja: não é sobre as cerimônias, é sobre o comportamento que elas devem provocar.

Como diz Simon Sinek em Start with Why:

“As pessoas não compram o que você faz, elas compram o porquê você faz.”

E o mesmo vale aqui: não fazemos Daily para ter uma Daily. Fazemos para criar alinhamento e foco diário no objetivo comum.


Sintomas de um time que só “faz cerimônia”

Se você, como Scrum Master, Agilista ou até como Agile Coach, perceber um desses sinais, ligue o alerta:

  • As reuniões viraram só checklists de status;

  • O Product Owner aparece só na Review;

  • Times com medo de expor problemas reais nas retrospectivas;

  • Métricas de agilidade? Só a quantidade de histórias entregues.

Se tudo virou só processo, o valor se perdeu, se é que um dia existiu!


Como resgatar a mentalidade ágil?

Sugiro abaixo algumas práticas que costumo realizar com os times com o intuito de fortalecer o pensamento Agile e levar o propósito ao time, desde a formação:

Reforçar o propósito de cada cerimônia: Explique o porquê antes de falar do como. Costumo realizar, antes de cada primeira cerimônia, uma apresentação sucinta explicando o propósito da reunião, o que entra, o que vamos trabalhar, o que deve sair, quem deve participar, etc. Isso nivela o entendimento do time e tudo passa a fazer mais sentido para todos;

Estimular a vulnerabilidade: Segurança psicológica é base para conversas reais (lembre-se de Amy Edmondson, no livro “The Fearless Organization”). Busco proporcionar um ambiente seguro e aberto – importante falar dos valores do Scrum para o time – onde as pessoas se sintam à vontade para se mostrarem vulneráveis. Começo por mim, sempre peço ajuda, pergunto, envolvo a todos, deixando claro que precisamos e precisaremos sempre um dos outros, como funciona em um time de Rugby;

Focar em valor entregue, não só em entrega de tarefas: Como reforça Mik Kersten, no livro “Project to Product”, “o fluxo de valor precisa ser visível e priorizado”. Trabalhar com metas de sprint atreladas ao valor de negócio é fundamental. Apresentar ao time nas retrospectivas a visão do roadmap e nas reviews trabalhar feedbacks com os POs, a fim de levar a todos o entendimento de onde as entregas mexem nos ponteiros de negócio também são práticas que fortalecem a visão do “porquê” fazemos o que fazemos;

Dar autonomia e incentivar o aprendizado contínuo: Como diz Carol Dweck em Mindset, o crescimento vem da experimentação. Fomentar ambiente de troca, aprendizado contínuo, auto-organização, tudo isso leva às pessoas a se sentirem parte, a terem liberdade de atuarem em tarefas que entendem que podem render mais. Ter essa liberdade, ao mesmo tempo em que o time esteja fechado no objetivo em comum, leva as pessoas a se sentirem empoderados e engajados.


Minha provocação final

Cerimônia sem propósito é só teatro. Processo sem mentalidade é só burocracia.

Se queremos times realmente ágeis e empoderamos, precisamos parar de medir a agilidade pelo calendário de reuniões e começar a medir pelo valor gerado e pela capacidade de adaptação ao cliente e ao mercado.

E você? Está vivendo a agilidade ou só encenando?


Vamos continuar esse papo nos comentários!

👉 Me conta: Qual seu maior desafio hoje na mudança de mindset ágil na sua realidade?

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