Entender o “porquê” te ajuda a saber o que esta fazendo
Sempre fui muito questionador, perguntador, sempre queria saber o porquê de tudo que me era apresentado (ainda sou assim). Os professores sofriam, comigo! E eu não aceitava qualquer resposta vaga. Se não fosse suficiente, eu mesmo ia atrás de respostas mais concretas e esclarecedoras (sigo dessa mesma forma). Anos depois, na faculdade de administração, uma professora de matemática aplicada “me reprovou” porque eu queria que ela me mostrasse na prática o uso de “integrais”, na função de administrador de empresas, porém, ela, ou não conseguiu ou não quis mesmo. Resultado: fui tão chato com isso que ela me marcou e acabou achando uma forma de ter minha companhia novamente no semestre seguinte! Ficamos amigos e depois entendi o uso de integrais.
Onde eu quero chegar com toda essa história e o que isso tem a ver com o título desse artigo, é o que vou te dizer à partir de agora.
Decoreba raso não te faz competente
Essa história inicial que te contei, foi apenas pra ilustrar uma forma pela qual hoje em dia algumas pessoas, inclusive eu, tem facilidade em entender como a tecnologia chegou até aqui e como funcionam os recursos que hoje usamos de forma simples, mas que por traz tem toda uma “ciência” arquitetada para transformar o complexo em simples. Quer um exemplo atual e que está no hype? o famoso n8n! Hoje as pessoas sabem usá-lo somente na superfície, nos ícones, nos elementos gráficos, mas poucos sabem o que tem por baixo e nem ao menos o conceito básico dos elementos oferecidos pela ferramenta. E isso é sim, um problema, quando se quer extrair o melhor de qualquer ferramenta.
Tá, me deixe fazer um parênteses em tudo isso que disse até aqui!
Quando eu digo que é ruim uma aquisição de conhecimento de forma rasa, isso se aplica a quem quer excelência no que faz, nos resultados que pretende alcançar. O nível de compreensão que você alcançar em algum tema, determinará o nível de excelência dos resultados que você terá na aplicação prática desse tema. Simples assim! Não tem contorno, atalho ou jeitinho! No contexto das empresas (organizações), Bertalanffy, biólogo e autor do livro “Teoria Geral dos Sistemas (TGS)”, contribuiu demais com essa visão, ao introduzir, em 1968, o conceito de visão sistêmica na administração das empresas. Em resumo, ela diz que é preciso enxergar a empresa em uma visão holística, aberta, respeitando a interdependência de fatores internos e externos e de forma evolutiva, ou seja, não devemos enxergar uma empresa de forma isolada, mas como um todo inserido num sistema maior, como um organismo vivo onde cada parte precisa uma da outra para que tudo funcione bem. Agora aplique isso a você mesmo, dentro do contexto de trabalho da sua função e do todo em que você está inserido! Pois é, se você se limitar ao conhecimento raso das suas atividades e ainda se fechar nelas, isso vai te transformar em um silo estanque, sem interações e até sem importância. Então, aprofunde-se no que você faz e busque conhecer bem o todo em que suas atribuições estão inseridas e faça o sistema te enxergar como uma peça fundamental no contexto geral.
Continuando…
Já tem um tempo que venho observando um comportamento vago no aprendizado das pessoas. Muitos aprendem por repetição, por tentativa e erro e tudo bem, é uma boa forma de aprender a fazer algo. O problema começa quando a pessoa começa a acreditar que esse conhecimento é “suficiente” para realizar tarefas críticas que exigem uma compreensão mais profunda do que está sendo feito. Quando a posição de quem faz precisa de pensamento estratégico e inteligente, quando essa mesma pessoa passa a disseminar o conhecimento raso. Aí coisa se complica, pois um pensamento limitado trava a evolução pessoal e do grupo influenciado por ele.
O conhecimento e a IA
Com essa nova onda do uso de IA pra tudo, as pesquisas nos GPTs se tornaram ações automáticas para muita gente, principalmente em áreas de tecnologia e afins. A IA potencializa demais o aprendizado, desde que se queira aprender de verdade. Mas se o seu comportamento é o de aprender apenas para executar, a IA só vai potencializar a sua incapacidade de compreender com profundidade aquilo que você está buscando. Ela vai te dar um passo a passo ou uma “receita de bolo” pronta, vai elaborar o conteúdo pra você ou até te guiar no processo quase que pegando na sua mão. Isso até parece bom, e pode até ser num primeiro momento, mas basta alguém te perguntar como você fez aquilo que logo você se dará conta de que não sabe como fez, mesmo com um resultado legal. No fim, não foi você quem fez, foi uma entidade externa e você, sendo usado por essa “entidade”, não tem a mínima ideia de como alcançou aquele resultado, se tornando apenas um “macaco treinado”. Eu sei, é pesado, mas posso te garantir que é real!
Relato real
Dia dessas estava eu conversando com um colega e ele me apresentava algo bem interessante, realmente cativante. Quando perguntei se tinha como fazer algumas alterações, sugerindo melhorias no que eu estava vendo, logo percebi que pra chegar naquele resultado ele não fazia ideia de como as ferramentas que usou pra fazer funcionavam. Tentei de diversas formas extrair algum conteúdo pra tentar ajudar, mas quanto mais eu aprofundava meus questionamentos, menos ele entendia. E isso me ligou um alerta gigante sobre como as pessoas estão fazendo suas atividades, seu trabalho, suas entregas no geral. Rapidamente fiz um exercício de recapitular momentos semelhantes e percebi o quanto aquilo era grave e de como pode impactar na execução das estratégias das empresas, tendo pessoas no piloto automático, executando suas atribuições sem se quer entender o que fazem, porque fazem e pra que fazem.
Como resolver esse enrosco
Me lembro de quando era diretor de produtos, do quanto eu me dedicava em buscar formas de desenvolver o time, de trazer profissionais de fora pra falar com eles, de gerar conteúdos, promover eventos internos para disseminação do conhecimento, de fazer eles interagirem entre si, se conheceram. Me lembro de implantar um portal de gestão de conhecimento que hoje uso com outro propósito na minha posição atual. Meu foco sempre era e sempre será, que as pessoas possam ter a capacidade de ter autonomia e de conhecer bem aquilo que fazem.
Para as empresas e gestores, o caminho mais básico é gerir o conhecimento, buscando deixar claras as motivações, com explicações sobre o que se espera de cada processo, produto, time, função e de todo e qualquer recurso disponível na empresa. Isso é relativamente simples, mas é um excelente começo. Individualmente, é importante que você aprenda a não se contentar com o “fazer sem saber o porquê”, mude sua mente para querer aprender de fato, aquilo que está fazendo e qual o papel disso no todo. Saia do automático e não seja um apertador de botões ou leitor e executor de “receitas de bolo”. Seja estratégico, intencional e conhecedor do funcionamento das coisas, nem que seja o básico, mas esse básico vai te permitir sair das chamadas “saias justas”, quando alguém te perguntar sobre os seus resultados. Saber como chegou até ali, vai fazer toda diferença nessa interação, não somente para a pessoa em relação a você, mas para você mesmo, em relação a sua própria segurança. Uma pessoa segura do que está fazendo, fala com propriedade e passa autoridade.
Concluindo…
Neste pequeno texto, que ensaio a dias para publicar, meu objetivo é colaborar com a evolução do ser humano em um momento tão impactante e delicado, quando se fala em conhecimento e desenvolvimento pessoal. Temos ferramentas incríveis para nos desenvolver, ferramentas estas que se mal utilizadas, pode facilmente inverter e perverter essa lógica, nos tornando escravos da preguiça e da procrastinação. Um momento em que é muito fácil aprender, mas é ainda mais fácil virar um papagaio repetidor do que uma inteligência artificial diz que é verdade.

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