O que é autogestão e como desenvolvê-la

Gerenciar a si mesmo pode ser prazeroso

A palavra “autogestão”, se inicia com o prefixo “auto”, do grego autós, que significa “eu”, e faz referência ao trabalho autônomo; aquele que só depende da própria pessoa. Seguido de “gestão“, que faz referência a gerenciamento. Assim, entende-se que autogestão é a autonomia do “eu“, de modo que a própria pessoa faça a gestão de suas atribuições e tarefas diárias e, com isso, por conta própria, assuma mais responsabilidades pela entrega de seus resultados. De forma suscinta, isso é autogestão. Sempre gostei de entender a semântica das palavras, pois, entendendo o significado, fica mais fácil compreender o que determinadas coisas querem dizer na sua essência.

Voltando ao tema central, fazer a gestão daquilo pelo qual somos responsáveis de forma direta ou indireta, se traduz por estarmos atentos ao que é importante para sua conclusão. E aí vem uma questão importante: mesmo que a autogestão esteja relacionada ao próprio ser, invariavelmente existirão situações em que se dependerá de outros. Por exemplo: preciso entregar um relatório pelo qual sou responsável, mas dependo de informações de terceiros. O que fazer nestes casos? Tenha calma, pois vamos chegar lá mais à frente.

Para que se possa desenvolver a capacidade de realizar a gestão de suas próprias atribuições, se faz necessária a observação e prática de alguns pontos-chave que são extremamente importantes para alcançar êxito ao assumir o gerenciamento de si mesmo de forma eficiente, se destaca cada um destes pontos a seguir.

I. Clareza sobre suas responsabilidades

    1. Entenda as responsabilidades de seu cargo: a descrição de cargo geralmente é fornecida no momento da contratação ou durante a fase de integração. Leia atentamente esse documento, pois ele detalha as principais responsabilidades e expectativas relacionadas ao seu papel na organização. Caso este documento não exista, converse com o departamento de gestão de pessoas ou com seu líder direto.
    1. Converse com seu líder direto: faça reuniões periódicas com seu líder direto para alinhar suas responsabilidades e as expectativas dele. Tenha clareza sobre quais são as principais atribuições, projetos e metas a alcançar. Peça orientações e esclarecimentos sobre qualquer aspecto que você não tenha compreendido completamente. Aproveite para pedir feedbacks sobre seu trabalho e desempenho.
    1. Utilize os recursos internos: muitas empresas possuem manuais, políticas e procedimentos internos que fornecem informações detalhadas sobre as responsabilidades de cada função. Consulte recursos, como manuais de funcionários, guias de processos ou documentos similares, para obter uma visão mais abrangente de suas obrigações.
    1. Participe de reuniões e alinhamentos: esteja presente nas reuniões de equipe, alinhamentos ou encontros regulares em que são discutidas as atividades e metas da área. Esses espaços oferecem a oportunidade de esclarecer dúvidas, obter atualizações sobre projetos e garantir que você esteja alinhado com as expectativas e prioridades do grupo.
    1. Mantenha-se atualizado: tenha atenção às mudanças na organização, novos projetos e prioridades em evolução. Se atualize sobre as políticas, procedimentos e estratégias da empresa para garantir que suas responsabilidades estejam alinhadas às necessidades.

II. Saiba a missão da sua área/empresa e qual a sua contribuição nela

Toda empresa possui uma missão, um motivo de existir. Você pode até pensar que é dar lucro, no caso de empresas com fins lucrativos. Porém, mesmo assim, ela nasceu com um propósito que vem antes do lucro. Esse propósito é exatamente o meio pelo qual ela irá gerar esses resultados financeiros. Então, basta buscar isso nas declarações de missão, visão e valores, que você achará a essência daquilo que move essa empresa. Se for uma empresa sem fins lucrativos isso se torna ainda mais fácil, pois esse propósito é exatamente o objetivo maior de sua existência.

Sabendo disso, você terá o caminho básico para alinhar suas expectativas e objetivos com os da empresa. Esse alinhamento facilita o entendimento do que deve ser feito. Na posição de líder, você ainda pode traçar um propósito contextualizado da área que lidera estando conectado com o propósito maior, para ajudar a guiar as pessoas do time a trabalhar em prol daquilo.

III. Boa comunicação interpessoal

    1. Escute ativamente: preste atenção ao que os outros estão dizendo e faça perguntas relevantes. Certifique-se de estar realmente ouvindo e compreendendo o que a pessoa está comunicando. Isso vai ajudar a evitar falhas de interpretação e execução das atividades.
    1. Seja claro e objetivo: ao se comunicar, seja claro e evite ambiguidades. Transmita as informações de forma simples e direta. Evite termos muitos técnicos, a menos que esteja se comunicando com pessoas que entendam do assunto.
    1. Aperfeiçoe suas habilidades de expressão não verbal: a comunicação não verbal desempenha um papel importante na forma como nos comunicamos. Preste atenção à sua linguagem corporal, tom de voz e expressões faciais. Mantenha contato visual adequado e utilize gestos que reforcem sua mensagem.
    1. Seja assertivo: ligando os três pontos anteriores, procure se comunicar de maneira eficiente e objetiva, não deixando margens à intepretações equivocadas. Sempre valide o entendimento e compreensão das outras pessoas, para garantir que o entendimento foi correto.
    1. Perguntas certas podem ajudar na compreensão: fazer perguntas pertinentes, relevantes e adequadas ajuda a aprofundar a compreensão. Não existe pergunta “burra”. Por mais básica que ela seja, perguntar não ofende.
    1. Pratique a comunicação formalizada: com o advento das ferramentas digitais de comunicação, é importante desenvolver habilidades de comunicação escrita e virtual. Deixar escrito o que foi combinado ajuda e manter os acordos de pé. Utilize uma linguagem clara, seja educado e evite os mal-entendidos.
    1. Desenvolva sua inteligência emocional: nada melhor para a autogestão, do que gerir as próprias emoções. A inteligência emocional além de ajudar no reconhecimento e gerenciamento de suas próprias emoções, também ajuda na compreensão das emoções dos outros, contribuindo para construir relacionamentos saudáveis e a se comunicar de forma mais eficaz.
    1. Desenvolva continuamente a comunicação: lembre-se de que a comunicação interpessoal é uma habilidade que pode ser desenvolvida com prática e perseverança. Esteja aberto a aprender, ouvir e se adaptar às necessidades dos outros, e você verá melhorias significativas na qualidade de suas interações.

IV. Autogestão não tem nada a ver com individualismo

E não mesmo! Achar que ser uma pessoa autogerenciável é isolar-se, olhando apenas para o próprio umbigo é errado. Autogestão tem a ver com a capacidade de saber o que deve ser feito e se responsabilizar por aquilo que está sob sua responsabilidade, sem que alguém precise lembra ou cobrar o tempo todo.

Autogestão de forma alguma é sinônimo de individualismo. Embora a autogestão envolva a capacidade de administrar a si mesmo de forma independente, não significa que seja um processo isolado ou que desvalorize a colaboração e o trabalho em equipe. Pelo contrário, a autogestão pode ser aplicada tanto no âmbito individual quanto no coletivo, promovendo a cooperação e o engajamento com os outros.

Essa prática não deve ser confundida com individualismo para evitar uma competição desenfreada. É uma abordagem que valoriza a responsabilidade individual, mas também a colaboração, a comunicação eficaz e o trabalho em equipe. Através da autogestão, os indivíduos podem se desenvolver e contribuir de forma positiva para o coletivo, promovendo um ambiente de trabalho saudável e produtivo.

Destaco a seguir alguns pontos sobre como a autogestão pode ser compatível com a colaboração e a não promoção do individualismo.

    1. Responsabilidade compartilhada: a autogestão não exclui a responsabilidade compartilhada. Embora cada indivíduo seja responsável por gerenciar suas próprias tarefas e desempenho, isso não significa que não haja colaboração ou interdependência com os demais membros da equipe. Pelo contrário, a autogestão pode promover uma cultura de responsabilidade em que todos os membros se responsabilizem por suas ações e contribuam para o sucesso coletivo.
    1. Sinergia de habilidades e conhecimentos: é importante valorizar a diversidade de habilidades, conhecimentos e perspectivas. Ao trabalhar em equipe, a combinação dessas habilidades individuais pode levar a resultados mais inovadores e eficazes. A autogestão também pode incentivar o compartilhamento de conhecimentos, a aprendizagem mútua, para uma melhora na construção coletiva.
    1. Liderança compartilhada: com a prática da autogestão, se pode abrir espaço para uma liderança compartilhada, em que os membros da equipe se sintam encorajados a tomar iniciativas e assumir responsabilidades. Isso promove a colaboração horizontal, em que todos têm a oportunidade de contribuir com base em suas habilidades e experiências.
    1. Alinhamento de metas e objetivos: mesmo que cada pessoa tenha suas próprias metas e objetivos dentro da organização e pratiquem a autogestão, é importante que elas estejam alinhadas com os objetivos coletivos da equipe ou organização. A autogestão não significa perseguir interesses individuais em detrimento do bem comum, mas sim equilibrar as metas pessoais e coletivas para promover um ambiente de trabalho colaborativo, harmonioso e produtivo.

V. Objetivos profissionais e metas de curto prazo bem definidas

A autogestão requer o que gerir, portanto, sem algo a ser mensurado e perseguido, não há autogestão. Então, tenha clareza de suas metas e objetivos de curto prazo. Saiba exatamente aquilo que precisa ser entregue e as expectativas que existem sobre essas entregas. Veja, eu não disse expectativas sobre você, mas sobre as suas entregas. A autogestão requer total controle disso.

Se você não tem total consciência sobre seu papel e sobre aquilo que você deve fazer, dificilmente terá condições de fazer autogestão.

    1. Esteja alinhado com seu líder: fale com ele sobre suas metas e objetivos. Compartilhe suas ideias, peça orientação e esclareça quais são as prioridades da equipe ou da organização. Seu líder pode e deve fornecer insights valiosos e ajudá-lo a estabelecer metas realistas e relevantes.
    1. Identifique oportunidades ou melhorias: identifique o que você gostaria de melhorar ou oportunidades que gostaria de explorar. Pense em habilidades que você deseja desenvolver ou projetos que gostaria de assumir. Tudo isso pode se tornar metas pessoais que ajudarão no seu crescimento profissional.
    1. Utilize a metodologia: a metodologia SMART pode ajudar a compor suas metas, pois elas devem ser específicas (Specific), mensuráveis (Measurable), atingíveis (Achievable), relevantes (Relevant) e com prazo definido (Time-bound). Por exemplo, ao invés de definir uma meta vaga como “melhorar minha comunicação”, você pode estabelecer uma meta SMART como “melhorar minha comunicação com as outras pessoas, participando de um curso de comunicação até o final do próximo trimestre”.
    1. Priorize as metas por relevância: faça uma classificação de importância e urgência de cada meta e estabeleça as prioridades. Algumas metas podem ser mais urgentes ou impactar diretamente nos resultados do seu trabalho, enquanto outras podem ser mais de longo prazo. Definir prioridades ajudará a manter o foco e a tomar decisões sobre como alocar seu tempo e recursos.
    1. Acompanhe e revise suas metas: mantenha um acompanhamento regular das suas metas e revise-as conforme necessário. Monitore seu progresso, faça ajustes se surgirem novas informações ou circunstâncias, e celebre suas conquistas ao alcançar cada objetivo.

Concluindo

A prática da autogestão é benéfica tanto para os líderes, quanto para os liderados. Enquanto o primeiro passa a ter mais tempo para se dedicar à estratégia, pois não precisa investir horas fazendo microgestão, o segundo ganha mais autonomia e liberdade para realizar seu trabalho. Contudo, é importante que se tenha em mente que o trabalho deve ser feito, independente da ausência das cobranças corriqueiras, que não existem com tanta frequência em ambientes que incentivam fortemente a prática da autogestão.

Porém, cabe ressaltar que, mesmo com a microgestão sendo reduzida a quase zero, é importante fazer algum nível de acompanhamento das atividades em andamento e das expectativas de entregas, visando mitigar possíveis inconvenientes pela falta de alinhamento entre as partes envolvidas. Lembrando, mais uma vez, que as metas devem ser desafiadoras, porém realistas e alcançáveis. Elas devem motivar as pessoas a crescer e se desenvolver, ao mesmo tempo em que sejam relevantes para o contexto do seu trabalho e da organização. Em ambientes assim, o aprendizado deve ser contínuo e o crescimento das pessoas deve ser constante, para que possam perceber os benefícios de se manter em um ambiente onde não hajam cobranças exageradas e que exista confiança no trabalho a ser desenvolvido, com base nas metas e objetivos.

Danilo Lima Especialista em liderança, produtos e tecnologia

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