Como implementar práticas ESG nos pequenos negócios
Nos últimos tempos temos observado como a Agenda ESG (Environmental, Social and Governance) vem evoluindo de forma muito rápida, principalmente, através das Grandes Corporações e mesmo como agendas Governamentais ao longo do mundo.
Semana do Clima de Nova York, Cúpula da Amazônia, Fórum ESG em Lisboa, Congresso Brasileiro de ESG e Sustentabilidade e uma gama de cursos promovidos por grande Universidades são alguns dos exemplos do investimento que vem sendo feito em relação ao tema.
Diante desse cenário Global, muitos tem insistido que o ESG é “Assunto de Gente Grande” e só se aplica às corporações que possuem ações em Bolsas de Valores e precisam estar compliance com o tema para busca de fundos de investimentos.
Porém, quando olhamos para o tema em sua essências e considerando todas as relações e interconexões envolvidas nos princípios ESG, vemos que é equivocada essa visão de que Pequenas e Médias Empresas não precisam se preocupar com o tema ou que não terão benefícios em trazer para seus empreendimentos ações voltadas para Proteção Ambiente, Cuidado Social e Governança Corporativa.
Em uma pesquisa recente feita pela Imprendo Consulting (nov/2023) com profissionais que têm atuado de forma direta ou indireta com o ESG, observou-se que 25% desses profissionais hoje estão atuando em Grandes Empresas e apenas 14% vem desenvolvendo alguma atividade em empresas de Pequeno e Médio Portes.
Esses números por si só mostram a oportunidade em aberto sobre o tema quando consideramos as informações do Sebrae que mostram que “no Brasil existem 6,4 milhões de estabelecimentos. Desse total, 99% são micro e pequenas empresas (MPE). As MPEs respondem por 52% dos empregos com carteira assinada no setor privado (16,1 milhões)”.
Segundo estudo da PNUD Brasil , “no Brasil, as micro e pequenas empresas geram 27% do Produto Interno Bruto (PIB) e são responsáveis por mais de 50% dos empregos com carteira assinada do setor privado, respondendo por 32% das exportações em 2020, de acordo com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex America Brasil)”.
Outra informação revelada pela pesquisa Imprendo Consulting (nov/2023) é que 46% dos entrevistados ainda não sabem como atuar dentro da Abordagem ESG, fato que nos leva a entender que esse volume tende a estar associado aos empresários/empreendedores que atuam no segmento de Pequenas e Médias Empresas. Ou seja, o setor precisa de ajuda para se posicionar de forma mais clara dentro dessa agenda.
Diante desse cenário, com base em um roteiro de perguntas elaborado pela Repórter Multimídia e Jornalista Digital, Priscila Mendes da Rádio CRA-MG – Conselho Regional de Administração de Minas Gerais , tentaremos responder algumas perguntas que podem ser fundamentais para seu planejamento com empresário ou mesmo como Consultoria que pretende atuar dentro desse contexto Brasileiro de oportunidades.
Como implementar práticas ESG nos pequenos negócios?
O primeiro passo para o processo de implantação das práticas ou abordagem ESG, independente do porte do negócio é o correto entendimento de que esse não é uma modinha de mercado ou uma agenda de marketing para melhorar a imagem da empresa.
O tema ESG está diretamente ligado à Sustentabilidade e ao futuro da humanidade como um todo. Portanto, buscar profissionais que tenham esse mindset é de fundamental importância para que o tema seja encarado de forma correta e que as ações façam, realmente, sentido para o empreendimento, seus colaboradores e clientes.
Por que é importante o ESG para a micro e pequena empresa?
Podemos citar diversas vantagens para as pequenas e médias empresas para adotarem o ESG em suas estratégias de negócio e cito algumas delas:
- Acesso a créditos e investimentos – cada vez mais as instituições públicas e privadas que fornecem crédito para investimento em inovação/desenvolvimento da economia tem introduzido em seus editais cláusulas que buscam garantir que os recursos serão implantados em empresas responsáveis com o Meio Ambiente, com Pessoas e com Transparência (ESG em sua essência);
- Menos riscos associados – quando as empresas levam em consideração a correta tratativa dos fatores críticos de produção (recursos naturais, recursos humanos, recursos financeiros, etc), o fator de risco relacionado a ações judiciais ou comprometimento da imagem da empresa no mercado é reduzido e a empresa consegue, inclusive, ser vista como diferencial entre seus concorrentes;
- Aumente de eficiências e redução de gastos – quando empresas se preocupam com consumo consciente de recursos hídricos, substituição de sua matriz energética por energia limpa, cuidado genuíno com seus colaboradores e desenvolvimento social das comunidades onde estão inseridas, todas essas ações refletem de forma positiva nos lucros da companhia e na perenidade do empreendimento;
Pequenas empresas também têm papel importante na construção de um futuro mais sustentável?
Evidente que a resposta para essa pergunta é sim. As pequenas empresas precisam entender que elas fazem parte de uma Cadeia Produtiva que começa, em muitos casos, em uma comunidade local ou até mesmo em um empreendimento familiar, porém, ela chega dentro das grandes empresas e movimentam a economia do país.
Uma grande organização precisa de suprimentos de limpeza, uniformes para seus funcionários, serviços de transporte e logística, suporte especializado em assuntos diversos e a grande maioria desses serviços são prestados por empresas de pequeno e médio porte.
Como as grandes corporações precisam demostrar sua responsabilidade em relação ao ESG, também, em sua cadeia estendida de suprimentos, temos uma enorme oportunidade de capitalizarmos essa adequação das pequenas e médias empresas e, ao mesmo tempos, garantirmos processo produtivos mais sustentáveis.
Quais são os principais princípios por trás das práticas ESG e por que são importantes para os pequenos negócios?
Os princípios básicos por trás das práticas ESG demostram que o tema não é um tema apenas de grandes empresas e pode ser aplicado por todo e qualquer segmento de mercado.
Trata-se do chamado Tripé da Sustentabilidade, do inglês Triple Botton Line, termo que foi trazido pela primeira vez em meados da década de 1990, por John Elkington (é uma autoridade mundial em responsabilidade corporativa e capitalismo sustentável), onde ele buscava fazer “medições” de sustentabilidade, para medir o desempenho das empresas e organizações.
O Triple Botton Line (TBL) tem por base os seguintes pilares:
- Social – Refere-se ao tratamento do capital humano de uma empresa ou sociedade.
- Ambiental -Refere-se ao capital natural de uma empresa ou sociedade.
- Financeiro – Trata-se do lucro. É o resultado econômico positivo de uma empresa
Portanto, quando olhamos para TBL podemos, claramente, entender que são pontos que dizem respeito a qualquer empreendimento que entenda sua função capital (lucro), social (pessoas) e ambiental (nossos recursos naturais).
Quais métricas e indicadores podem ser usados para medir o desempenho ESG de um pequeno negócio?
A referência em relação a indicadores de desempenho para as pequenas empresas deve ser, também, os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) que vem direcionando as ações para a Agenda 2030, um Pacto Global da United Nations criados para erradicar a pobreza e promover vida digna a todos, sem comprometer a qualidade de vida das próximas gerações.
Segundo o relatório do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (DESA), de 2020, “as micro e pequenas empresas têm vital relevância na atividade econômica global, na criação de empregos e rendimentos, especialmente para grupos mais pobres e marginalizados”.
Entender o contexto onde a pequena e média empresa está inserido e quais ações podem ser desenvolvidas nesse âmbito é a principal função dos gestores e empreendedores nesses setores.
Como os pequenos negócios envolvem os funcionários e partes interessadas no apoio às práticas ESG?
A Transformação Cultural Organizacional é, no meu entender, uma das formas mais eficazes para envolver pessoas e stakeholder dentro da agenda ESG.
Uma correta abordagem sobre o tema começa por um bom diagnóstico do entendimento das partes interessadas sobre o tema, mapeamento dos principais Sponsor (patrocinadores), entendimento correto dos impactos positivos ou negativos nas comunidades onde a empresa está inserida e o estabelecimento de canais de comunicação multilaterais com todo esse ecosistema.
A sensibilização dos envolvidos e o correto entendimento que não estamos falando de um trabalho apenas da empresa e sim de todos os atores envolvidos nesse processo é outro ponto que pode definir o sucesso ou fracasso das iniciativas propostas. Trazer todos para o jogo é necessário e estabelecer papéis e responsabilidades para que haja comprometimento de todos pelos resultados que serão perseguidos.
Quais desafios específicos dos pequenos negócios enfrentam ao implementar práticas ESG e como podem superá-los?
Geralmente o Modelo de Negócio das Pequenas e Médias empresas e sua composição societária tende a ser o fiel da balança em processos de implantação de melhorias, inovações ou de uma Abordagem ESG como é o caso em questão.
Os empreendedores precisam, nesse caso, buscar uma maturidade em relação ao assunto que estamos tratando e terem consciência de que podemos estar falando sobre a perenidade ou extinção de um Negócio.
Portanto, é de fundamental importância que o tema seja tratado de forma estratégica e com apoio técnico especializado de consultorias e, também, com o aprendizado que já pode ser observado através de implementações feitas pelas grandes empresas.
Qual é o papel da liderança e da cultura empresarial na promoção de práticas ESG em pequenos negócios?
A estudiosa sobre o tema e autora do livro O Poder Transformador do ESG, Paula Harraca , dedicou um capítulo inteiro sobre “A liderança como catalisadora da inovação e o ESG”, e começa a abordagem do tema com a seguinte frase:
“O líder aponta o caminho não com o dedo, mas com a própria caminhada”.
E nesse contexto não estamos falando apenas de lideranças formais dentro da estrutura. Estamos falando de pessoas dentro das empresas que estejam motivadas e com propósitos claros para promover uma mudança cultural em sua área de atuação e, também, nas suas ações fora da empresa.
Para ser um líder nessa Jornada da promoção do ESG é preciso coragem, visão estratégica, amor pelo que está fazendo, iniciativa e propósito.
Como os pequenos negócios podem garantir a transparência e a prestação de contas em relação às práticas ESG?
A melhor forma de dar transparência sobre o tema é buscando uma adequação dos Relatórios de Sustentabilidade (GRI – Global Reporting Initiative) hoje usados pelas grandes empresas.
O objetivo principal do GRI é avaliar, identificar e gerir indicadores relacionados, principalmente, com os 17 ODS e mostrar como a empresa vem se comprometendo com o tema ao longo de suas ações.
Atualmente existem alguns selos que já podem ser aplicados as empresas de pequeno e médio porte para atestar a veracidade das ações e certificar que as empresas estão tratando do tema de forma séria.
Podemos citar como exemplo a empresa mineira Patrus Transportes , que obteve o selo BV ESG360, emitido pelo Bureau Veritas Group , reconhecendo as práticas de sustentabilidade e governança corporativa da companhia.
A Patrus Transportes foi “fundada em Belo Horizonte e com 85 filiais em dez estados do Brasil, a empresa obteve a certificação ao comprovar que investe em fontes de energia, como a solar, atua na capacitação de suas equipes de trabalho em temas socioambientais e de desenvolvimento profissional, adota as melhores práticas de compliance e incentiva a diversidade e a inclusão, entre outras iniciativas. A companhia opera com soluções em transporte de carga fracionada – um bom exemplo de que a agenda ESG é para todas as empresas, independentemente de seu ramo de atividade ou porte“. Informação extraída de documento público da Bureau Veritas Group .
Como a adoção de práticas ESG pode afetar a confiança e a competitividade de um pequeno negócio?
As pequenas e médias empresas precisam entender seu valor social e econômico em uma país de inúmeras oportunidades que é o Brasil.
Hoje temos um potencial de crescimento enorme dentro de uma agenda global que busca empresas que sejam responsáveis por um planeta sustentável e isso passa pela força de trabalho e serviços das pequenas e médias empresas.
Desde um artesão, um cabeleireiro, uma padaria, uma oficina mecânica até uma empresa de transportes ou de construção civil. Em todos esses seguimentos podemos gerar impactos positivos para a sociedade dentro da abordagem ESG nas pequenas e médias empresas. Porém, é preciso agir de forma consciente e propositiva para que esses resultados sejam alcançados.
Conclusão
O ESG não é um tema apenas para os Grandes. ESG é sim um tema para as Pequenas e Médias Empresas que precisam se preparar para aproveitar as oportunidades que vem sendo postas e gerar um movimento de transformação que seja duradouro e faça diferença para a humanidade.
As empresas devem buscar o suporte necessário através de capacitação de líderes e colaboradores e, também, de empresas que estejam trabalhando no tema em diversos seguimentos para que esse conhecimento já adquirido seja um diferencial para uma implantação no curto e médio prazos.
Alem Moreira Martins Júnior
Especialista em Governança Estratégica de Negócios e Tecnologia
Referências:
ebook_sebrae_sustentabilidade_objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel.pdf
Saiba como micro e pequenas empresas podem ajudar países a cumprir a Agenda 2030 | United Nations Development Programme (undp.org)
Os benefícios do Relatório de Sustentabilidade (GRI) – SGS Sustentabilidade
BV ESG 360 | Bureau Veritas Brazil
https://meiosustentavel.com.br/john-elkington/#google_vignette
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